Quem teve quem eu tive em casa
- Antonio Coelho Ribeiro

- 19 de out. de 2018
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Quem teve quem eu tive em casa
Durante trinta e seis anos e meio
Deus levando, querer arranjar outra
Precisa muito de uma boa coça de reio
Ser chamado de entulho; bem procede
Quem o chamar desse nome tem razão
O entulho é tudo aquilo que não presta
Não se trata só de resíduos de demolição
Ele pode ter sido muito importante
Porém tudo muda conforme a situação
O que não serve nem pra aterro sanitário
É colocado lá. Ninguém quer vê-lo mais não
Colocado, espalhado, pisado, socado
Que é pra nunca mais entulhar a ninguém
Apesar de ter feito parte da maior ostentação
Ao descarta-lo, num só coro; todos dizem amém
O engano foi pensar que eu fosse reciclável
Nisso fui entulhar a vida de quem eu não deveria
Muito triste a gente tentar ser útil e não conseguir
Isso faz com que a gente viva afundado em agonia
Nem convém que eu escreva mais nada hoje
Estou me sentindo num estado nada agradável
Ainda mais sabendo que de tudo o que acontece
Sou o maior culpado, ou melhor, um irresponsável
É engraçada e curiosa nossa língua portuguesa
Coloca o irresponsável na inteira responsabilidade
Parece ter tudo em comum com os nossos feitos aqui
Pedimos a felicidade, ela vem se tornando infelicidade
Somos iguais a um porco na ceva engordando
Engorda, engorda até um dia não mais se aguentar
Seu peso só aumenta e não tem jeito de receber ajuda
Tem que carregar sua gordura para nela própria se fritar
Estou meio perdido, posso ser infeliz nas colocações
Não sei se estou findando bem de acordo com o começo
Mas, ser pessoa tão privilegiada como aconteceu comigo
Fazer burrada depois de tanto!? Que cruel! Me aborreço
Coelho
Em 19.10.2018 às 08:28 hs

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