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No trem que eu gosto tanto


No trem que eu gosto tanto

Não estou mais podendo entrar

Aí, quase só viajo no pensamento

Confesso: não tenho pressa de chegar


Eu sempre falo desse trem

E vou dar uma boa explicação

Naquele meu tempo de criança

Era quase a nossa única embarcação


Depois que cresci. O absurdo

Até os trilhos ousaram arrancar

Ainda bem que os que ficaram por aí

Não gastam trilhos, e eu posso é viajar


Minha vó ensinava bordado

E eu parecia estar numa estação

Era cada um mais lindo que o outro

Tinha hora que eu confundia com avião


Aquele tempo é vivo até hoje

Uma maravilha! Que recordação

Avião é só para realçar esse relato

Aquilo andava junto comigo no chão


Dizer aquilo, não é no pejorativo

Muito pelo contrário, meu irmão

É o jeito de elevar o que já é elevado

Nessa hora a gente até falta expressão


Aí, qualquer palavra dá certo

Para evitar o explodir do coração

Ainda mais eu nessa idade toda, ne?

No dizer lá do Onça, “crençudo” aí, não


Não sou crençudo, sou é zoiudo

Se não puder entrar, viajo de fora

Só não devo é ficar parado de bobeira

Conta comigo, trem bão: chego na hora


O entusiasmo é coisa muito boa

Ele veio comigo desde o nascimento

Falou em viagem, tô pronto e no ponto

Bom que a que faço, nem tem pagamento


Deixe-me apear um pouquinho

Viajei boa distância para um só dia

Meus setenta e nove tempos nas costas

Pelo tanto que gosto: ah! Jamais apearia


Coelho

Em 24.02.2021 às 12:34 hs

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© 2018 Raio X de um coração - Autoria de Antonio Coelho Ribeiro 

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